domingo, 24 de maio de 2009


VIVA EXU!



A cidade de Exu está situada às margens do Rio Brígida no sopé da serra do Araripe, fazendo divisa com as cidades de Crato, Santana do Cariri e Jardim, no estado do Ceará. Esta cidade pernambucana fica à 700Km de Recife. De acordo com o último censo realizado pelo IBGE, ante de 1999, sua população total era de 31091 habitantes. Lá estão depositados todos os sonhos da Família Januário, através da pessoa do Rei do Baião.

O moleque ‘fiota’, muito cedo mostrou aos colegas da Fazenda Caiçara à 12Km de Exu, o som tirado de um fole de oito baixos, igualzinho àquele que Mestre Januário sanfonava nas noites de samba, ali pertinho do Araripe. Mais tarde, o filho de Seu Januário e de Dona Santana, lá das bandas de Novo Exu fazia sucesso na Rádio Nacional, no Rio de Janeiro.

Luiz Gonzaga não se cansava de enaltecer o nome de sua querida Exu. Lutou pedindo a Deus e a seu povo, a paz para o seu berço, que antes era só alegria e que a partir do dia 10 de abril de 1949, começava uma guerra sangrenta entre as famílias Sampaio, Alencar e Saraiva. Este episódio ficou conhecido em todo o Brasil e no mundo. A primeira semente, súplica de paz que Luiz Gonzaga lançou a seu povo, foi com a música CANTARINO, lançada em 1973.

Nesta música Luiz Gonzaga usa os pássaros, Cantarino e Asa Branca, para expressar seu sentimento:

“Volto agora a minha terra/ Volto agora ao meu torrão

Trago paz pra minha gente/ Trago amor no coração

Quero ouvir a Asa Branca/ Contemplar o amanhecer

Quero amar este recanto/ Terra que me fez nascer.



Canta, canta Cantarino/ Quero ouvir o teu cantar.

Canta, canta Cantarino/ Canta para me ajudar

Teu canto é a promessa/ De um ano chovedor

Teu canto é a esperança/ De um povo sofredor



Voltarei a ser vaqueiro/ Ou modesto lavrador

Cantarei com repentistas/ Esperança, paz e amor

Vou lutar por minha gente/ Abraçar o meu Sertão

Cada sertanejo amigo/ Cada amigo um irmão

Vou lutar por minha gente/ Abraçar o meu Sertão

Cada sertanejo amigo/ Cada amigo um irmão



Canta, canta Cantarino/ O vento soprano lá na serra

Canta, canta Cantarino/ é sinal de lavoura na minha terra.”



Luiz Gonzaga sempre teve uma grande vontade de vê seu povo, sua Exu querida em paz. Queria vê reinar a paz no seu pé de serra. Em 1979 compôs com o filho Gonzaguinha a música RIO BRÍGIDA, no qual, eles narram a tristeza do Rio Brígida ao passar por Novo Exu, ele sai chorando por vê irmão matando irmão. Este era mais um apelo de pai e filho em prol da paz. Luiz Gonzaga foi então procurar o governador de Pernambuco para pedir ajuda, não sendo suficiente, foi ao Presidente da República em exercício, Dr. Aureliano Chaves e disse: “Dr. Aureliano, faça um esforço para levar a paz à minha terra!” Após este encontro com Dr. Aureliano, Luiz Gonzaga parte então para Exu e espera a realização da paz e que a vontade de Deus se faça presente nos corações dos homens.

Foi decretado pelo o governo de Pernambuco a intervenção no município de Exu, esta notícia foi publicada no Diário Oficial no dia 10 de novembro de 1981. Com este impulso de Luiz Gonzaga junto ao governo federal, Exu escrevia um novo capítulo de sua história, começava-se a firmar o sentimento de mansidão e de paz. A intervenção em Exu teve a duração de um ano e dois meses. Luiz Gonzaga ainda com medo de a paz não está entranhada no coração de seu povo exuense, canta com o filho a música PRECE POR EXU NOVO, de autoria do próprio Gonzaguinha, e gravada entre janeiro e fevereiro de 1982.

Prece Por Exu Novo é realmente uma súplica a Deus, a Virgem Maria e a memória de “Pai Januário”:

“Seu moço é tão triste a história/

Que já nem sei do começo/

Não gosto de sua lembrança/

E quando lembro estremeço/

Eu era ainda criança/

E tudo já estava no avesso/

Amor demais deu em ódio/

Tomou as contas de um terço.

Pai Nosso nos salve Maria não deixe esses filhos sem berço.

Pai Nosso nos salve Maria não deixe esses filhos sem berço.

Ai, Ai, Ai, Ai , Ê! Ai, Ai, Ai, Ai , Ê!



São tantos ódios a solta/

São tantas vezes a cruz/

São tantos corpos tombados/

São tantas vidas sem luz/

São tantas vezes a raiva/

Tecendo seu negro capuz/

É tanto sangue e maldade/

Que só o canto traduz.

Pai Nosso nos Salve Maria, ajude a gente ó Jesus.

Pai Nosso nos Salve Maria, ajude a gente ó Jesus.

Ai, Ai, Ai, Ai , Ê! Ai, Ai, Ai, Ai , Ê!





E vamos embora daqui/

Meu Deus não dá pra ficar/

Meu Cristo eu quero sumir/

Eu vou fugir pra aculá/

Exu ficando vazio/

E o povo buscando lugar/

A donde havia alegria/

Sobrevive o mal estar.

Pai Nosso nos salve Maria, da lei do morrer ou matar.

Pai Nosso nos salve Maria, da lei do morrer ou matar.

Ai, Ai, Ai, Ai , Ê! Ai, Ai, Ai, Ai , Ê!





Que os poderosos se matem/

Problema é do poder/

Mais sempre sobra pros pobres/

E isso eu não posso entender/

Acaba restando uns quatro/

Pra tentar se resolver/

Quatro tiros quatro mortes/

E ninguém mata a nascer.

Pai Nosso nos salve Maria a morte não pode vencer.

Pai Nosso nos salve Maria a morte não pode vencer.

Ai, Ai, Ai, Ai , Ê! Ai, Ai, Ai, Ai , Ê!





Pois é meu Pai Januário/

Parece que a paz não vingou/

Nas terras do teu pé de serra/

Acauã só agoirou/

Canta mais triste o Assum Preto/

Mais triste do que cantou/

No céu já não vejo Asa Branca/

Foi s’imbora e não voltou.

Pai Nosso nos salve Maria, Padim Cirso por favor.

Pai Nosso nos salve Maria, Padim Cirso por favor.

Ai, Ai, Ai, Ai , Ê! Ai, Ai, Ai, Ai , Ê!





E entra ano e sai ano/

E tudo sem solução/

O filho que a juventude/

Com sua revolução/

Nos traga o amor e acabe/

O horror desta tradição/

E assim permita meu povo/

Que volte pro meu Sertão.

Nos mostre Pai Nosso e Maria, irmão ajudando irmão.

Nos mostre Pai Nosso e Maria, irmão ajudando irmão.

Ai, Ai, Ai, Ai , Ê! Ai, Ai, Ai, Ai , Ê!

Ai, Ai, Ai, Ai , Ê! Ai, Ai, Ai, Ai , Ê!



Essa união de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha é muito forte, para melhor expressar seus sentimentos de amor e fidelidade à sua terra. O sonho, a alegria de Gonzagão foram realizados e agora só reina a paz naquela terra. Exu hoje é conhecida como a terra do Asa Branca da Paz. É uma cidade acolhedora, do jeito do coração de Luiz Gonzaga – o Rei do Baião.

Exu, nos orgulhamos por teu filho e nosso irmão que partiu para todo o Brasil, honrando teu nome e defendendo a todos nós nordestinos. Luiz Gonzaga sempre honrou teu nome, e em diversas cidades do Brasil dizia: ‘Viva Exu!’ Seu amor ao torrão natal era tamanha, prova disto, é os seus últimos anos de existência morando nesta bendita cidade situada às margens do Rio Brígida. Os restos mortais de Seu Januário, Dona Santana, Severino Januário, Dona Helena e de Luiz Gonzaga repousam no Mausoléu do Gonzagão, no Parque Asa Branca, em Exu. Viva Exu!!!

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